Esta manhã mascarado de trabalhador fiz-me à estrada, cruzei as ruas desertas e até tive um pensamento egotista: demora-se menos tempo e tudo, mesmo assim cheguei ao escritório “atrasado”, fui efusivamente cumprimentado pelos meus outros dois colegas de contenda, e logo ali festejamos o nosso inicio de dia de trabalho brindando com café e bolos como se estivéssemos numa qualquer repartição pública, o trabalho andou rápido (ao ritmo do privado) até porque para o resto da Europa nós Portugueses somos os atrasados (calma!), isto é: andamos com uma hora de atraso (o fuso horário), as conversas com os Franciús ou com os Nuestros Hermanos iam bater sempre ao mesmo tópico, para eles somos todos uns fanfarrões que passamos a noite toda na desbunda (adivinharam) e estávamos agora ali dar no batente (voltaram a acertar), enquanto o país se divertia e gozava, sem se importar com os cobradores do fraque (vulgo: troika) que anda pela capital a trocar ficheiros de Excel (como se não houvesse e-mail), para avaliar se nos emprestadavam mais algum guito para pagar as contas do estado que teima em não conseguir arrumar a casa, e continua despesista e mandrião (ai! ai!), até porque não conseguiu (nem nunca conseguiria) fazer vingar a “intolerância” de ponto decretada para o sector publico para este dia de Carnaval.
…para não ser gozado pelos que ficaram em casa, isto é aproveitaram o dia para festejar o Entrudo, de tarde não fui trabalhar…
temos por conceito ser preconceituosos, preferimos avaliar pelas aparências e primeiras impressões, e na maior parte das vezes nem sequer pensamos pela nossa cabeça, usamos a avaliação de outros qual preguiçoso mandrião que nem se dá ao trabalho de pensar um pouco e fazer a sua própria apreciação, muitas vezes somos também vítimas desse mesmo sistema, e vemo-nos assim enredados numa teia que nos enleia e da qual é difícil escapar, pior, outras vezes esta situação é congénita, porque nem sequer nos damos ao trabalho de ensinar aos nossos filhos a verdadeira noção do valor do respeito pelo próximo, o conceito de amizade, e a real noção de verdade.
A distinção entre o bem e o mal não se pode resumir apenas à bipolarização dos conceitos, se tivermos por base os ensinamentos religiosos (quais quer uns) desde que bem interpretados podem ser um bom princípio, mas só isso não chega, é preciso vermos com os olhos da alma, rompermos a cegueira que nos ofusca, e o mais difícil de tudo, porque “nascemos” com essa deficiência que torna a nossa sociedade singular: o erro,
avaliarmos o nosso próximo tal qual gostaríamos nós mesmos de ser reconhecidos.
Os bonzinhos foram ao baile de Carnaval, e não é um conceito, até porque estavam lá todos do Ministro das Finanças ao Policia Silva passando pelo padre Manuel, e até Quem Nós Sabemos (o próprio Lord Voldemort) que cedeu amavelmente a dançar com uma das suas mais proeminentes súbditas a inconfundível e simpatiquíssima Belzebu.
Na paixão tal como em tudo na vida as nossas vontades são dominadas pelos apetites, o sal de um momento pode ser despertado pela doçura de um sorriso, a pimenta de uma ocasião pode estar à flor da pele na linha que separa o caramelo do creme de ovos, e… são tantas as vezes que temos de colocar os nossos desejos em banho-maria antes que esturrem, porque há sentimentos que fervem em pouca água, intenções cruas prontas a estrugir, carinhos insossos prontos a ser salgados por aquela lágrima de felicidade, calores escondidos que rebentam ao sabor agridoce do primeiro beijo.
O aroma da tentação chega ainda antes da primeira trinca, esta delícia é um petisco que se serve sem guarnição, que se prova mas nem sempre se aprova, saboreia-se lentamente, e rega-se generosamente com o néctar da loucura.
O gelado da prudência derrete-se no ardor do ensejo quando a lucidez já não faz farinha da perdição, ama-se com gula, e come-se como se não houvesse amanhã.
O remorso queima-se com o café, e o sentimento de realidade evapora-se a cada gole de um sempre ultimo digestivo.
Quando o caldo se entorna e chega a traição, esquece-se o colesterol, acabam-se as dietas, entorta-se o destino, e afagam-se as mágoas numa qualquer fatia de Bolo Estrelado.
Libertai-vos do jugo da opressão!
As coisas não são assim só porque aqueloutro o diz,
chegou a hora de dizer BASTA!
- se marcaram uma hora e agora é outra,
ai! que assim não é se não houver uma boa explicação,
e já agora um simpático pedido de desculpas
- se fizeram um orçamento e agora já não é bem assim,
calma! porque o bolso é meu,
o melhor é rever bem e procurar sempre contrapartidas
- se pedi um café,
não quero um carioca!,
e já agora em chávena quente e com pauzinho de canela
- se prometeram mundos e fundos,
alto! o melhor é desconfiar,
pôr tudo preto no branco, ler as linhinhas todas,
e contestar
Cagarolas militante,
já é tempo de soltar as amarras,
chegou a hora de ser
perspicaz, impertinente, descarado,
desavergonhado, atrevido, audaz, …, desconfiado,
porque este mundo é dos espertos,
e não estamos aqui para ser comidos pelos espertalhões.
Vai-te! e não deixes...
Todas as noites serão a tua noite
Foi-se… este ano o governo não dará tolerância de ponto aos funcionários públicos na terça-feira de Carnaval, vai haver quem fique chateado porque se acaba com o único dia em que a palhaçada era oficialmente fora da repartição.
E os privados? Não vão deixar que uns fiquem a rir e outros a chorar!
Este ano não há Carnaval,
e muita gente vai levar a mal!