De salto alto ou sapatilhas, de calça de ganga ou de lycra, aos poucos e poucos a bancada vai-se enchendo, o burburinho diz-nos que este publico é conhecedor, e tem por hábito frequentar este espaço, não faltam os apetrechos dignos de quem não deixa os seus créditos por mãos alheias, e a seu modo elas lá se vão preparando para o jogo, da tradicional garrafinha de água, à buzina, passando pela indiscreta mantinha para melhor instalar o rabo, tudo é permitido.
O apito do árbitro dita ao início das hostilidades, e sob o olhar atento das especialistas eles lá vão trocando a bola, na bancada os comentários ao andamento da partida são dignos do linguajar de qualquer político comentador da bola, e à medida que o jogo vai esmorecendo as conversas vão-se desviando para outros campos, da manicura ao preço do frango, tudo se discute, e se não entrar nenhum golo ou não houver lance polemico que esquente a conversa podia até dizer-se que estas mulheres se tinham reunido para o chá das cinco, ou até para fazer um crochetzinho.
Mas não se deixem enganar pelo olhar manso delas, pois basta uma qualquer rasteira ou lance mal apitado para que o circo pegue fogo, com a precisão digital de uma qualquer repetição em camara lenta desfazem alguma dúvida que ainda pudesse prevalecer, e quando não ficam satisfeitas fingem esquecer o nome do interveniente e põe-se para lá a invocar a sua progenitora, até por vezes e no calor da emoção esquecem que são elas, ou melhor o filho d... do gajo das panelas, mais ou menos isso! Quando o jogo não corre de feição elas demonstram estar à altura dos acontecimentos, debitando quantidades inimagináveis de palavrões que fazem o mais afoito adepto de futebol parecer um menino de coro.
E ainda bem que o árbitro apitou para o intervalo que elas já estão com a garganta seca, e nada melhor do que irem molhar o bico com uma bujeca, e já agora uma bifana para acompanhar e outra bujeca para empurrar.
Se algo pode correr mal a um jogo destes é não haver golos, tem de haver aqui entusiasmo e emoção, que elas precisam de gritar, praguejar, saltar, espernear, para a seguir voltarem ao mesmo, discutirem assuntos de interesse como a quantidade certa de açúcar para o bolo de mármore, “era cartão amarelo q’eu vi!”, o novo amante da coisa e tal, “olha a falta... não chutes assim carago”, fazer mais uma chamada para casa (só para controlar caramelo), “vai-lhe às canetas, sem medo!”, mais dois dedos de conversa, “corre atrás dele, vai!”, e pelo meio uma atrás de outra e mais outra mensagem de amor (para o amante).
No fim, não há pressa em ir embora, porque tarda o consenso, e elas não se decidem se as meias que a outra trazia eram assim tão escandalosas, se a mini-saia era um cinto, ou se era possível pôr-lhe mais uns quantos defeitos ao decote...
A caminho do carro ainda resta tempo para mais uma chamadinha para o marido:
«Olha que se me deixas queimar o assado, eu boto-te os cornos…
…outra vez!»
Nota: Este artigo é pura ficção... ou quase
Imagem meramente ilustrativa