Uma viagem de mil quilómetros começa com um simples passo.
E o primeiro passo deste transporte foi dado quando fomos contactados no final do ano passado por um cliente invulgar, a JSD, para fazermos um Transporte Solidário, o objetivo seria entregar um camião de donativos num campo de refugiados. Desde o primeiro momento agarramos a causa e mantivemos a nossa determinação em executar o serviço.
E assim no inicio de Abril começamos a receber os primeiros donativos, por carrinha uns, por camião outros, mas sempre cheios de boa vontade.
A 8 de Abril carregamos o camião, e escutamos as palavras de agradecimento dos promotores da iniciativa, cheios de orgulho por trabalhar numa Empresa, que consegue ajudar, quando hoje em dia é tão difícil fazê-lo.
Foi brindado pelo sol, nas tréguas de um dia chuvoso, que o nosso samaritano partiu dos Transportes Alvaro Figueiredo em Oliveira de Azeméis para a longa viagem até ao Campo de Refugiados de Eleonas em Atenas.
Cruzou estradas de Espanha com frio, nevoeiro e neve, sempre em boa companhia já que não faltam “Figueiredos” na rota. Entrou na França pelo sul, sem muito tempo para admirar a paisagem. Numa vida onde tantas vezes o trabalho dita que se troquem as noites pelos dias, e as refeições tantas vezes ficam esquecidas, por isso é uma felicidade acabar a jornada com um jantar ao final da tarde com um companheiro da casa.
Sempre com horas contadas, o dia começa bem cedo na estrada, quando o sol desponta já o motorista conta com muitos quilómetros percorridos numa estrada repleta de solidão.
Quando há cerca de quatrocentos anos o nosso conterrâneo Frei Pantaleão de Aveiro partiu em peregrinação à Terra Santa, em busca da sua própria identidade, estava longe de imaginar que os tortuosos caminhos que as suas pobres alpercatas palmilharam através dos temerosos Alpes podem agora ser atravessados por uma rede de estradas, pontes e tuneis, que nos levam tranquilamente à sempre eterna Itália.
Seguindo por esta Europa sem fronteiras, e cada vez mais perto do destino, esta longa viagem navegou tranquilamente embalada pelas ondas do Mediterrâneo de península a península deixando a da “bota” e desembarcando no intemporal Peloponeso, dali até à capital Helénica resta uma “pequena” maratona.
Foi uma viagem sem percalços, em contraste com a dos refugiados que fomos ajudar, gente fugida da guerra que deixou tudo para trás, e que sem condições caminhou enquanto terra havia, e depois se “atirou” ao mar em busca da paz.
Levamos no camião uma carrada de esperança, e quando lá chegamos descarregamos alegria, e distribuímos um pouco de felicidade.
A ajuda foi entregue, o sentimento de missão cumprida revela-nos que os nossos objetivos foram alcançados.